Análise da presença feminina no ensino superior em computação no Brasil
O contexto
Em 2022, o IBGE publicou a 3ª edição das Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, com dados que apontavam a baixa presença feminina em cursos superiores na área de tecnologia.
Não só isso, de 2012 para 2022 o percentual de mulheres concluintes do curso de Ciência da Computação caiu de 17,5% para 15%, de acordo com o Censo da Educação Superior.
Historicamente, as mulheres contribuíram para avanços significativos dentro da área de computação. Grace Hopper foi pioneira no estudo de compiladores, definindo bases que norteram o desenvolvimento de linguagens de programação; sem o trabalho de Radia Perlman e sua importante invenção, o STP, a internet como conhecemos não seria viável; Barbara Liskov, além de contribuir para princípios de desenvolvimento de software, também foi um nome importante no estudo de sistemas distribuídos tolerantes à falhas. Sem falar, é claro, de Ada Lovelace, considerada a primeira pessoa programadora do mundo.
A pergunta que surge, então, é: em um país onde as mulheres são as que mais recebem diploma de ensino superior, por que elas não estão nas salas de aulas de cursos como Ciência da Computação?
A análise
O objetivo desse projeto de análise de dados é responder algumas perguntas sobre a presença feminina no ensino superior em computação no Brasil. A base de dados analisada é a de Microdados do Censo da Educação Superior, disponibilizada publicamente pelo INEP e o portal de dados do Governo Federal. O período analisado é de 2020 a 2023 - uma janela de 4 anos desde o último ano que a pesquisa foi divulgada. Olhar para diferentes anos permite entender como os dados variaram ao longo do tempo.
Perguntas e hipóteses
Todo projeto de análise de dados precisa, além de um recorte, de hipóteses que servem como guia para a análise e perguntas que ditam como os dados serão explorados. Dentro do recorte já apresentado, a análise pode ser dividida em duas perguntas principais, uma de caráter mais amplo e outra mais específica:
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Como evoluiu a presença feminina no ensino superior brasileiro ao longo dos últimos anos?
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Como está a presença de mulheres em cursos de computação, historicamente dominados por homens?
A partir dessas perguntas, podemos formular hipóteses sobre o tema:
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A proporção de mulheres matriculadas no ensino superior aumentou nos últimos anos
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A proporção de mulheres em cursos de computação permanece abaixo de 25% nos últimos anos
Visão geral
Começar com uma visão macro e afunilar para detalhes mais específicos permite construir gradativamente um melhor entendimento do tema. Portanto, o primeiro passo na análise será olhar para a proporção de ingressantes do sexo masculino e feminino nos últimos anos.
Fonte: autoria própria
Nota-se uma prevalência das mulheres no ensino superior, com uma diferença de 17,6% em relação aos homens; um número expressivo. Uma análise comparativa dos últimos anos permite responder a primeira hipótese dessa análise.
Fonte: autoria própria
A proporção de mulheres matriculadas no ensino superior aumentou nos últimos anos.
Em relação aos cursos de computação, porém, quais são os números?
Os 4 principais cursos da área de tecnologia são:
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Ciência da Computação
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Engenharia de Computação
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Análises e Desenvolvimento de Sistemas
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Sistemas de Informação
Portanto, a amostra analisada levará em consideração os dados referentes à esses cursos.
Fonte: autoria própria
A diferença entre homens e mulheres nos cursos de computação é discrepante, o que sustenta a hipótese de que a proporção de mulheres em cursos de computação permanece abaixo de 25% nos últimos anos. O gráfico abaixo permite olhar com maior detalhe.
Fonte: autoria própria
O percentual mais alto da presença feminina em cursos de computação foi no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, que atingiu 21% em 2022 e manteve o mesmo percentual em 2023, seguido por Sistemas de Informação que, em 2023, também atingiu a marca de 21%.
Embora a presença feminina em cursos de computação no Brasil seja significativemnte menor do que a presença masculina, o padrão observado é de uma crescente. Ainda existe esperança.
Reflexões
O papel social frequentemente atribuído às mulheres envolve atividades voltadas à educação e ao cuidado. O mesmo relatório do IBGE que aponta a baixa presença feminina em cursos de formação CTEM (Ciência, Tecnologias e Matemática), mostra como elas são a maioria nas áreas de saúde e ensino.
A escolha de uma profissão é muito pessoal, ou em teoria deveria ser. A verdade é que pesquisas recentes mostram que a escolha da profissão é influenciada, muitas vezes de forma inconsciente, pelas áreas e atividades às quais o indivíduo é exposto desde a infância e adolescência. O ambiente familiar, social e escolar exerce papel fundamental na formação da identidade profissional, onde expectativas e valores são transmitidos, muitas vezes moldando as escolhas profissionais dos jovens antes mesmo deles terem maturidade plena para decidir.
Ao olhar para o ensino de base, nota-se que a presença de meninas em olímpiadas de matemática, robótica e programação ainda é menor que a presença de meninos. Um motivo possível pode ser a falta de incentivo e, partindo dessa suposição, isso explica os baixos números de mulheres no ensino superior em áreas de computação. Iniciativas como o Movimento Meninas Olímpicas busca incentivar a participação de meninas em atividades voltadas para áreas CTEM ao longo do ensino fundamental e médio. Ações como essa podem ser cruciais para que, nos próximos anos, mais mulheres optem por seguir para áreas de tecnologia no ensino superior.
O Fórum Econômico Mundial apresentou um relatório em janeiro de 2025 listando os empregos que terão as maiores taxas de crescimento até 2030, sendo todos eles da área de computação. Portanto, é extremamente necessário a mudança dos números atuais da presença feminina no ensino superior em computação no Brasil.
O notebook com a análise completa pode ser encontrado no repositório